É algo bom examinar e
detalhar as coisas relacionadas com os princípios da ordem e do funcionamento
da assembleia, para chegarmos a uma conclusão bíblica a respeito do terreno de
reunião. A Bíblia diz que os bereanos eram “nobres” porque “de bom
grado [com prontidão de espírito – JND] receberam a Palavra,
examinando cada dia nas Escrituras se estas coisas eram assim” (At 17:11).
O que se mostrou tão louvável neles é que eles “receberam a Palavra” antes
de examiná-la nas Escrituras. Isso mostra que sua fé enxergou Paulo e Silas
como mensageiros enviados por Deus e, portanto, eles prontamente receberam o
que disseram. Quando examinaram aquelas coisas nas Escrituras, eles descobriram
que aquilo que sua fé já tinha aceitado daqueles homens era verdade.
É triste dizer, mas hoje não vemos muito o
espírito dos bereanos entre os Cristãos. As pessoas geralmente querem contestar
e argumentar sobre vários pontos da doutrina antes de recebê-la. E, mesmo
assim, tem que ser uma declaração literal da Escritura – um princípio da
Palavra de Deus não é o bastante. Não estamos sugerindo que as pessoas devam confiar
cegamente em tudo o que lhes é dito, mas a Bíblia diz, “sabendo
de quem o tens aprendido” (2 Tm 3:14). Nosso ponto aqui é que
Deus levanta homens com dons para nos trazer a verdade (Ef 4:11-14), e
precisamos estar em um estado espiritual (como os bereanos estavam) para
reconhecer isso e receber o que eles têm para nos dar. Quando conhecemos
aqueles que nos têm dado a verdade, devemos ter fé para aceitá-la prima
facie[1] e, em
seguida, diligentemente examinar as Escrituras. Este é um espírito louvável de
se ter ao buscar a verdade.
A Escritura diz: “Compra a verdade e não a
vendas” (Pv 23:23). Não há melhor momento para fazer isso do
que quando somos jovens. A Escritura também indica que devemos “receber
com mansidão a Palavra em vós enxertada” (Tg 1:21). Significa
que a humildade é muito necessária nesse exercício. Porém, ao olhar os
comentários e perguntas que recebemos, nós nos perguntamos se eles são de
pessoas que estão realmente procurando “comprar a verdade”,
pois o espírito de “mansidão” parece estar
faltando. Há mais um espírito de contestação do que espírito de investigação.
Uma rápida olhada no índice permitirá que o
leitor perceba que a maioria (se não a totalidade) das queixas que as pessoas
têm a respeito da verdade da reunião giram em torno de Mateus 18:20. Parece que
a coisa toda é um ataque direto a esse versículo. Talvez o subtítulo deste
livro devesse ser “Respostas aos Ataques a Mateus 18:20”. É preocupante saber
que alguns dos comentários e perguntas são de mais velhos que foram expostos à
verdade de reunião e aparentemente a abraçaram por anos. Era de se esperar que
eles tivessem essas coisas bem resolvidas na mente há muito tempo. E o que é
ainda mais perturbador é que eles têm agido um tanto como o velho profeta de
Betel (1 Rs 13), incentivando os mais jovens em sua oposição à verdade. Pode
ser que esses mais velhos já tivessem esses questionamentos há algum tempo e
fiquem felizes em ouvi-los externados pela geração mais nova. Mas ao incentivar
esse tipo de coisa, eles poderiam muito bem “perverter [derrubar – JND] a fé de alguns”
(2 Tm 2:18) em coisas que “certamente são cridas entre nós”
(Lc 1:1 – KJV).
O que piorou as coisas é que irmãos
bem-intencionados que defendem a verdade tentaram responder a algumas dessas
perguntas e queixas, mas sem querer fizeram afirmações insensatas e imprudentes.
Isso só agravou o problema e frustrou os irmãos mais jovens que estão
procurando respostas. Estamos conscientes de que poderíamos fazer o mesmo.
Portanto, nos sentimos muito dependentes do Senhor ao abordar este segundo
volume de Perguntas.
Temos consciência de que pode haver alguns, em
cujas mãos este livro cairá, que não possuem o desejo de aprender a verdade de
reunião e podem aproveitar um erro não intencional (imaginário ou real) e
ampliá-lo na tentativa de anular a verdade. Mas, ao fazê-lo, eles apenas
manifestam o seu verdadeiro espírito. A velha rima, “Um homem convencido contra
sua vontade ainda mantem sua opinião como sendo a verdade”[2], é tão
verdadeira hoje como era quando foi escrita muito tempo atrás. Portanto, não
queremos ser atraídos para discussões carnais com aqueles que estão insatisfeitos
e não querem a verdade.
Provérbios 26:4 diz: “Não
respondas ao tolo segundo a sua estultícia, para que também te não faças
semelhante a ele”. Entendemos que não devemos responder a esse
tipo de pessoa no mesmo espírito em que ela faz as suas contestações carnais;
fazê-lo seria descer a seu nível. Mas o próximo provérbio diz: “Responde
ao tolo segundo a sua estultícia, para que não seja sábio aos seus olhos”
(Pv 26:5). Isso nos diz que deixar declarações insensatas e ignorantes passarem
incontestes sem refutação apenas fortalece o tolo em sua autoconfiança. Essa é
uma das razões pela qual este segundo volume está sendo agora publicado. Uma
razão maior, é claro, é que gostaríamos de ajudar aqueles que querem a verdade.
Portanto, procuraremos, com o máximo de nossa
capacidade, declarar a verdade e deixá-la para aqueles que a desejam. Esperamos
que o Senhor faça com que estas coisas sejam boas para a alma de cada um que
busca com sinceridade.
[1] N. do T.: Expressão do latim que significa “à
primeira vista”.
[2] N. do T.: Do ditado popular em inglês A man
convinced against his will is of the same opinion still, que em tradução
livre seria “Um homem convencido contra
sua vontade permanece com a mesma opinião”.
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