COMENTÁRIO/PERGUNTA: Alguns tentaram distorcer Mateus 18:20 para dar a entender que é o Espírito que reúne, o que causou uma grande confusão. Se você ler o capítulo, você vai descobrir que o Espírito Santo não é mencionado, nem mesmo aludido. Alguns tentaram justificar a ausência de qualquer menção do Espírito Santo, dizendo que é porque Ele é “manso e humilde” (o que é verdade) e traz toda a atenção para Jesus (o que também é verdade). No entanto, isso é uma justificação. Se Jesus pretendia dizer que é o Espírito que reúne um grupo seleto de Seus filhos, então podemos ter inteira confiança de que é isso o que Ele teria dito. A Palavra de Deus nunca nos deixará em dúvida se procurarmos orientação d’Ele para entendê-la. A dúvida só surge quando os homens começam a falar que a Bíblia não quer dizer realmente o que ela diz. Assim que começamos a fazer comentários como esse, lançamos dúvidas sobre a Palavra de Deus. Se não podemos confiar na Palavra de Deus, em que podemos confiar?
RESPOSTA:
Em primeiro lugar, o “alguns” a que essa pessoa está se referindo – mas não
menciona – são J. N. Darby, W. Kelly, C. H. Mackintosh, F. G. Patterson, J. A.
Trench, W. Potter, H. Smith etc. (citações reais deles podem ser dadas para
comprovar isso). Esses eram homens de Deus conhecidos por sua piedade e
discernimento espiritual; muitos deles eram estudiosos do grego. Eles eram
mestres dotados dados à Igreja por Cristo, a Cabeça, para aperfeiçoar o
entendimento dos santos sobre a revelação divina. Se dermos a devida atenção ao
ministério deles, seremos estabelecidos na verdade, e não seremos levados ao
redor por “todo o vento de doutrina” que aparece
(Ef 4:11-14).
É geralmente aceito (e não apenas
em círculos dos “Irmãos”) que esses homens, e outros, foram especialmente
levantados e usados por Deus para recuperar à Igreja a verdade que estivera
perdida por mais de 1.500 anos. Se isso é verdade (e cremos que é), é difícil
acreditar que pessoas agora estejam dizendo que aquilo que esses homens
ensinaram não está correto. Não estamos dizendo que eles sejam infalíveis. Nem
se trata de uma situação em que um deles tenha feito uma declaração
questionável em algum ponto e os outros não concordam com ele – todos
eles, concordes, ensinam a mesma coisa sobre este assunto! Sendo assim,
deveríamos confiar no conhecimento e julgamento espiritual de alguns jovens insatisfeitos
em vez de confiar no que foi ensinado por esses instruídos e dotados mestres?
Acusar o Sr. Darby e os demais de “distorcerem” as Escrituras é uma alegação
ousada. E nos colocarmos como sendo suficientes para criticar, e posteriormente
condenar, o ministério desses homens é algo presunçoso. Se forem verdadeiras,
essas alegações lançam uma séria dúvida se Deus levantou esses homens e se
houve sequer uma recuperação da verdade.
Um Cristão amigo nosso, que se
inscreveu no Seminário Teológico de Dallas anos atrás, disse que no dia de
abertura do ano letivo o diretor se dirigiu a todo o corpo estudantil. Em seus
comentários, ele disse que, “além dos apóstolos, na história da Igreja houve
dois homens que foram especialmente usados por Deus para ajudar a Igreja, pelos
quais devemos ser gratos. Um deles é Martinho Lutero e o outro é John Nelson
Darby!” Essa afirmação veio de um homem que não seguia a eclesiologia[1]
de Darby, mas de fato reconhecia o seu dom e a sua espiritualidade. Ainda assim,
entre os congregados ao nome do Senhor, há evidentemente aqueles que não
pensariam duas vezes em denegrir o Sr. Darby. Comentários depreciativos já
foram feitos com esse fim. É de se perguntar quem pensamos que somos para
dispensar os ensinamentos desses homens dotados que Deus usou para trazer tanta
verdade preciosa para a Igreja (1 Tm 5:17; Hb 13:7)? Diante desse tipo de
oposição, o próprio Sr. Darby disse, “A ignorância é ousada porque é ignorante”,
ou seja, podemos fazer declarações ousadas em assuntos “onde os anjos temem
pisar” por sermos ingênuos. Nós nos perguntamos se esse é o caso aqui com esta
primeira pergunta/comentário. Não seria melhor assumir uma posição de humildade
sobre o assunto, e recorrer ao Senhor em busca de esclarecimento e respostas?
Abordar o assunto com um espírito de investigação é muito mais louvável,
especialmente quando se é jovem.
Cada um de nós precisa se
perguntar: “Eu acredito que houve um movimento de Deus para recuperar a verdade
para a Igreja nos anos 1800?” Se tivermos assumido nosso lugar em comunhão com
aqueles que procuram sustentar o que foi recuperado por esse movimento de Deus,
presumimos que a resposta seja “sim”. Nossa pergunta então seria: “Se cremos
que Deus levantou homens para recuperar a verdade para a Igreja, então por que
não aceitamos o que eles ensinaram?” Assumir um lugar entre aqueles reunidos
sob tais princípios, e mesmo assim se opor a essas coisas, parece uma tremenda
hipocrisia. Se não cremos nos princípios sob os quais estamos reunidos, por que
estamos em tal posição, afinal? O que as pessoas pensariam de alguém
declaradamente contrário ao nazismo, mas que fosse membro de carteirinha do
Partido Nazista? Ou o que pensariam de alguém categoricamente contrário a armas
e que frequentemente protestasse contra elas, mas que pertencesse a um clube de
armas? Seríamos obrigados a dizer que se trata de alguém extremamente incoerente
com suas crenças, e ninguém o levaria a sério.
É ilógico alguém se virar e atacar
os princípios de Mateus 18:20, quando está associado àqueles que se reúnem para
adoração e ministério sob tais princípios. Ao fazê-lo, está suprimindo o
próprio terreno em que ele se encontra eclesiologicamente! Não temos certeza se
uma pessoa racional iria querer fazer isso, contudo esta parece ser a posição
do autor da pergunta.
[1] N. do T.: A eclesiologia é o estudo
da doutrina Cristã. A palavra é formada a partir de dois termos gregos ekklesia, que significa “assembleia” e “logos”, que significa “palavra” ou
“estudo”.
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