quinta-feira, 19 de dezembro de 2019

CAPÍTULO 1: A Suposta “Distorção” de Mateus 18:20


COMENTÁRIO/PERGUNTA: Alguns tentaram distorcer Mateus 18:20 para dar a entender que é o Espírito que reúne, o que causou uma grande confusão. Se você ler o capítulo, você vai descobrir que o Espírito Santo não é mencionado, nem mesmo aludido. Alguns tentaram justificar a ausência de qualquer menção do Espírito Santo, dizendo que é porque Ele é “manso e humilde” (o que é verdade) e traz toda a atenção para Jesus (o que também é verdade). No entanto, isso é uma justificação. Se Jesus pretendia dizer que é o Espírito que reúne um grupo seleto de Seus filhos, então podemos ter inteira confiança de que é isso o que Ele teria dito. A Palavra de Deus nunca nos deixará em dúvida se procurarmos orientação d’Ele para entendê-la. A dúvida só surge quando os homens começam a falar que a Bíblia não quer dizer realmente o que ela diz. Assim que começamos a fazer comentários como esse, lançamos dúvidas sobre a Palavra de Deus. Se não podemos confiar na Palavra de Deus, em que podemos confiar?
RESPOSTA: Em primeiro lugar, o “alguns” a que essa pessoa está se referindo – mas não menciona – são J. N. Darby, W. Kelly, C. H. Mackintosh, F. G. Patterson, J. A. Trench, W. Potter, H. Smith etc. (citações reais deles podem ser dadas para comprovar isso). Esses eram homens de Deus conhecidos por sua piedade e discernimento espiritual; muitos deles eram estudiosos do grego. Eles eram mestres dotados dados à Igreja por Cristo, a Cabeça, para aperfeiçoar o entendimento dos santos sobre a revelação divina. Se dermos a devida atenção ao ministério deles, seremos estabelecidos na verdade, e não seremos levados ao redor por “todo o vento de doutrina” que aparece (Ef 4:11-14).
É geralmente aceito (e não apenas em círculos dos “Irmãos”) que esses homens, e outros, foram especialmente levantados e usados por Deus para recuperar à Igreja a verdade que estivera perdida por mais de 1.500 anos. Se isso é verdade (e cremos que é), é difícil acreditar que pessoas agora estejam dizendo que aquilo que esses homens ensinaram não está correto. Não estamos dizendo que eles sejam infalíveis. Nem se trata de uma situação em que um deles tenha feito uma declaração questionável em algum ponto e os outros não concordam com ele – todos eles, concordes, ensinam a mesma coisa sobre este assunto! Sendo assim, deveríamos confiar no conhecimento e julgamento espiritual de alguns jovens insatisfeitos em vez de confiar no que foi ensinado por esses instruídos e dotados mestres? Acusar o Sr. Darby e os demais de “distorcerem” as Escrituras é uma alegação ousada. E nos colocarmos como sendo suficientes para criticar, e posteriormente condenar, o ministério desses homens é algo presunçoso. Se forem verdadeiras, essas alegações lançam uma séria dúvida se Deus levantou esses homens e se houve sequer uma recuperação da verdade.
Um Cristão amigo nosso, que se inscreveu no Seminário Teológico de Dallas anos atrás, disse que no dia de abertura do ano letivo o diretor se dirigiu a todo o corpo estudantil. Em seus comentários, ele disse que, “além dos apóstolos, na história da Igreja houve dois homens que foram especialmente usados por Deus para ajudar a Igreja, pelos quais devemos ser gratos. Um deles é Martinho Lutero e o outro é John Nelson Darby!” Essa afirmação veio de um homem que não seguia a eclesiologia[1] de Darby, mas de fato reconhecia o seu dom e a sua espiritualidade. Ainda assim, entre os congregados ao nome do Senhor, há evidentemente aqueles que não pensariam duas vezes em denegrir o Sr. Darby. Comentários depreciativos já foram feitos com esse fim. É de se perguntar quem pensamos que somos para dispensar os ensinamentos desses homens dotados que Deus usou para trazer tanta verdade preciosa para a Igreja (1 Tm 5:17; Hb 13:7)? Diante desse tipo de oposição, o próprio Sr. Darby disse, “A ignorância é ousada porque é ignorante”, ou seja, podemos fazer declarações ousadas em assuntos “onde os anjos temem pisar” por sermos ingênuos. Nós nos perguntamos se esse é o caso aqui com esta primeira pergunta/comentário. Não seria melhor assumir uma posição de humildade sobre o assunto, e recorrer ao Senhor em busca de esclarecimento e respostas? Abordar o assunto com um espírito de investigação é muito mais louvável, especialmente quando se é jovem.
Cada um de nós precisa se perguntar: “Eu acredito que houve um movimento de Deus para recuperar a verdade para a Igreja nos anos 1800?” Se tivermos assumido nosso lugar em comunhão com aqueles que procuram sustentar o que foi recuperado por esse movimento de Deus, presumimos que a resposta seja “sim”. Nossa pergunta então seria: “Se cremos que Deus levantou homens para recuperar a verdade para a Igreja, então por que não aceitamos o que eles ensinaram?” Assumir um lugar entre aqueles reunidos sob tais princípios, e mesmo assim se opor a essas coisas, parece uma tremenda hipocrisia. Se não cremos nos princípios sob os quais estamos reunidos, por que estamos em tal posição, afinal? O que as pessoas pensariam de alguém declaradamente contrário ao nazismo, mas que fosse membro de carteirinha do Partido Nazista? Ou o que pensariam de alguém categoricamente contrário a armas e que frequentemente protestasse contra elas, mas que pertencesse a um clube de armas? Seríamos obrigados a dizer que se trata de alguém extremamente incoerente com suas crenças, e ninguém o levaria a sério.
É ilógico alguém se virar e atacar os princípios de Mateus 18:20, quando está associado àqueles que se reúnem para adoração e ministério sob tais princípios. Ao fazê-lo, está suprimindo o próprio terreno em que ele se encontra eclesiologicamente! Não temos certeza se uma pessoa racional iria querer fazer isso, contudo esta parece ser a posição do autor da pergunta.



[1] N. do T.: A eclesiologia é o estudo da doutrina Cristã. A palavra é formada a partir de dois termos gregos ekklesia, que significa “assembleia” e “logos”, que significa “palavra” ou “estudo”.

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